texto: André Pernambuco |
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
A nostalgia do futuro
Rodrigo Martins
O fotógrafo Rodrigo Queiroz se autodenomina um "caçador de universos". Diz que busca sempre captar detalhes, momentos particulares do que pretende ilustrar, com o objetivo de registrar a vida "além do que já é conhecido pelas pessoas". A vontade de fotografar a Rocinha, maior favela da América Latina, vinha de muito tempo, quando passava por São Conrado e via aquele amontoado de casas, como um enorme painel quadriculado.
O resultado da empreitada, "Rocinha: cotidiano e arquitetura", estará em exposição no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) até 26 de setembro. Com curadoria de Marco Antonio Portela, a mostra é gratuita e ficará aberta ao público de terça a domingo, das 12h às 19h. Reúne 34 fotos das mais de 600 registradas entre novembro de 2008 e setembro de 2009.
"Foi quase um ano de convivência com a comunidade. Esperei de três a quatro meses, mais ou menos, para que o ambiente me absorvesse. As pessoas eram muito fechadas e precisei deste tempo para adquirir a confiança dos moradores. No início, deixava minha máquina em cima de uma mesa e pedia uma água. Muitas vezes saía de lá sem tirar uma foto".
Ele diz que se considera obsoleto. Procura manter uma forma de fotografar e tratar as imagens semelhante ao método analógico, quando usava-se filme de grãos de prata de 35 milímetros de largura, que era revelado em laboratório com produtos químicos. Hoje, programas de computador específicos ajudam bastante o processo. "No laboratório, aprendi a usar filtros, ampliar, reduzir. Hoje, aplico as mesmas técnicas, mas é tudo mais fácil". Para ele, a qualidade das imagens digitais ainda vai demorar para chegar ao nível do cromo, que é o positivo de uma foto. "As imagens dos monóculos foram transformadas em cromo a partir do digital. Têm tanta definição que podem mostrar detalhes do dente de uma pessoa" , exemplifica.
Queiroz disse ainda que está em processo de captação de recursos para a publicação de um livro com todas as imagens deste período de exploração de um universo outrora visto pela maioria da população mundial como apenas uma gigantesca favela.
Com a preocupação de apresentar a Rocinha real e inserir o público na energia do local, a apenas 15 dias para o início da mostra, o curador Marco Antonio Portela alterou o formato previsto inicialmente. Para que houvesse maior participação dos visitantes, o curador sugeriu alterar os tamanhos das fotos – que seriam expostas em papel –, instalar monóculos com as mesmas em cromo e tamanho reduzido e elaborou uma sala de projeção com ambientação sonora, onde é possível acompanhar as imagens em slides ouvindo sons típicos da comunidade, como gravações de algumas das cerca de 300 rádios existentes.
"Quis quebrar a rigidez e a frieza das imagens penduradas, mostrar o ambiente orgânico e caótico do local, provocar maior imersão na obra. O monóculo remete a um objeto carinhoso, familiar, aproxima o observador do que existe lá dentro. A sala de projeção desloca o visitante do real para o ambiente retratado", explica Portela.
A oportunidade de Queiroz realizar o trabalho surgiu quando foi chamado para fazer uma matéria sobre turismo internacional e teve a chance, finalmente, de conhecer a Rocinha. Era tudo o que precisava para retomar o que mais gosta de fazer: fotografar. Descobriu sua vocação no sexto período da faculdade de jornalismo. Após entrar pela primeira vez num laboratório de fotografia e ter a certeza de que era com aquilo que pretendia trabalhar. Como editor, já não tirava mais fotos e começou a ficar desanimado com a profissão. "Estava quase pedindo demissão, fiquei muito feliz quando pude dar início a este projeto. A Rocinha salvou a minha vida", conta.
Queiroz buscou lugares onde os próprios habitantes não costumam ir. Conheceu a favela de um extremo a outro e tirou fotos até da reserva ecológica, pouco conhecida pela sociedade, hoje em dia, protegida por um muro. Lá, encontrou muitas casas só de madeira. Um dos elementos que mais chamou sua atenção foi o caos – o crescimento urbano desordenado, que traz uma arquitetura peculiar, e a falta de espaço para a população, que resolve o problema com extrema criatividade. "Se uma pessoa mora no terceiro andar de um prédio e ganha um dinheiro a mais, ela compra o terceiro andar do prédio à frente e constrói uma ponte para facilitar a passagem", exemplifica.
Não deixem de ver o trabalho deste artista: http://www.rodrigoqueiroz.art.br/
Esta é minha primeira matéria publicada em um jornal impresso.
Fica o registro: Jornal do Commercio, dia 20/08/2010, caderno Artes, página 5.
O fotógrafo Rodrigo Queiroz se autodenomina um "caçador de universos". Diz que busca sempre captar detalhes, momentos particulares do que pretende ilustrar, com o objetivo de registrar a vida "além do que já é conhecido pelas pessoas". A vontade de fotografar a Rocinha, maior favela da América Latina, vinha de muito tempo, quando passava por São Conrado e via aquele amontoado de casas, como um enorme painel quadriculado.
O resultado da empreitada, "Rocinha: cotidiano e arquitetura", estará em exposição no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) até 26 de setembro. Com curadoria de Marco Antonio Portela, a mostra é gratuita e ficará aberta ao público de terça a domingo, das 12h às 19h. Reúne 34 fotos das mais de 600 registradas entre novembro de 2008 e setembro de 2009.
"Foi quase um ano de convivência com a comunidade. Esperei de três a quatro meses, mais ou menos, para que o ambiente me absorvesse. As pessoas eram muito fechadas e precisei deste tempo para adquirir a confiança dos moradores. No início, deixava minha máquina em cima de uma mesa e pedia uma água. Muitas vezes saía de lá sem tirar uma foto".
Ele diz que se considera obsoleto. Procura manter uma forma de fotografar e tratar as imagens semelhante ao método analógico, quando usava-se filme de grãos de prata de 35 milímetros de largura, que era revelado em laboratório com produtos químicos. Hoje, programas de computador específicos ajudam bastante o processo. "No laboratório, aprendi a usar filtros, ampliar, reduzir. Hoje, aplico as mesmas técnicas, mas é tudo mais fácil". Para ele, a qualidade das imagens digitais ainda vai demorar para chegar ao nível do cromo, que é o positivo de uma foto. "As imagens dos monóculos foram transformadas em cromo a partir do digital. Têm tanta definição que podem mostrar detalhes do dente de uma pessoa" , exemplifica.
Queiroz disse ainda que está em processo de captação de recursos para a publicação de um livro com todas as imagens deste período de exploração de um universo outrora visto pela maioria da população mundial como apenas uma gigantesca favela.
Com a preocupação de apresentar a Rocinha real e inserir o público na energia do local, a apenas 15 dias para o início da mostra, o curador Marco Antonio Portela alterou o formato previsto inicialmente. Para que houvesse maior participação dos visitantes, o curador sugeriu alterar os tamanhos das fotos – que seriam expostas em papel –, instalar monóculos com as mesmas em cromo e tamanho reduzido e elaborou uma sala de projeção com ambientação sonora, onde é possível acompanhar as imagens em slides ouvindo sons típicos da comunidade, como gravações de algumas das cerca de 300 rádios existentes.
"Quis quebrar a rigidez e a frieza das imagens penduradas, mostrar o ambiente orgânico e caótico do local, provocar maior imersão na obra. O monóculo remete a um objeto carinhoso, familiar, aproxima o observador do que existe lá dentro. A sala de projeção desloca o visitante do real para o ambiente retratado", explica Portela.
A oportunidade de Queiroz realizar o trabalho surgiu quando foi chamado para fazer uma matéria sobre turismo internacional e teve a chance, finalmente, de conhecer a Rocinha. Era tudo o que precisava para retomar o que mais gosta de fazer: fotografar. Descobriu sua vocação no sexto período da faculdade de jornalismo. Após entrar pela primeira vez num laboratório de fotografia e ter a certeza de que era com aquilo que pretendia trabalhar. Como editor, já não tirava mais fotos e começou a ficar desanimado com a profissão. "Estava quase pedindo demissão, fiquei muito feliz quando pude dar início a este projeto. A Rocinha salvou a minha vida", conta.
Queiroz buscou lugares onde os próprios habitantes não costumam ir. Conheceu a favela de um extremo a outro e tirou fotos até da reserva ecológica, pouco conhecida pela sociedade, hoje em dia, protegida por um muro. Lá, encontrou muitas casas só de madeira. Um dos elementos que mais chamou sua atenção foi o caos – o crescimento urbano desordenado, que traz uma arquitetura peculiar, e a falta de espaço para a população, que resolve o problema com extrema criatividade. "Se uma pessoa mora no terceiro andar de um prédio e ganha um dinheiro a mais, ela compra o terceiro andar do prédio à frente e constrói uma ponte para facilitar a passagem", exemplifica.
Não deixem de ver o trabalho deste artista: http://www.rodrigoqueiroz.art.br/
Esta é minha primeira matéria publicada em um jornal impresso.
Fica o registro: Jornal do Commercio, dia 20/08/2010, caderno Artes, página 5.
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