“A proposta do meu trabalho é trazer pessoas como eu, que não tiveram oportunidade, aos centros culturais, aos grandes museus. É fazer uma ponte para que eles possam se interessar por arte”. Este é o sonho de Paulo Santos, artista maranhense, nascido em Santa Luzia e morador do Realengo. Descobriu aos sete anos que possuía dom para o desenho, quando o pai o levou ao cinema pela primeira vez e, a partir deste momento, começou a desenhar as cenas como uma história em quadrinhos.
Sua grande paixão era ser cineasta, aquela experiência abrira sua mente e o fez vislumbrar o mundo das artes. Como todo autodidata, começou a ler, pesquisar e, aos poucos, foi se interando cada vez mais até ganhar uma bolsa de dez anos numa escola de artes. Infelizmente, problemas familiares o impediram de dar continuidade ao que realmente gostava de fazer. Precisou se afastar dos estudos e, por conta própria, começou a explorar este universo.
Iniciou trabalhos com aerografia e serigrafia e conheceu as primeiras técnicas de estêncil com Alex Vallauri. Além destas vertentes, Paulo Santos trabalhava nas áreas de cenografia para cinema, televisão e carnaval, o que o levou a ser chamado pelo Centro Cultural Banco do Brasil para fazer banners e montar algumas exposições. Impulsionado, participou da elaboração de cenografia para o Museu de Artes Modernas, Museu de Belas Artes e diversos centros culturais. Foi sua primeira experiência no cosmo das artes plásticas.
Resolveu pintar, mas não sabia o quê nem como conseguir esta proeza. Ficou dez anos tentando. Bateu em várias portas, mas sempre diziam que sem estudo ele não chegaria a lugar nenhum. Não desistiu. Continuou fazendo seus quadros, na garagem de 12 m², onde consegue se organizar e produzir quadros antropofágicos e surrealistas, misturando um olhar crítico às questões sociais, étnicas, políticas e religiosas, sem esconder um pessimismo quanto ao futuro do País. Em suas telas há sempre olhares perdidos na incerteza em relação aos caminhos que a nação seguirá.
“Minha inspiração surgiu através do ambiente em que eu vivia. Resolvi pintar alguma coisa que vinha de dentro. Não me conformava quando minha mãe chegava em casa reclamando da contribuição que dava à Igreja em troca de uma bênção maior. Este foi o tema do meu primeiro quadro: Mercado Divino”, explica Santos.
Foi chamado, então, por um amigo, André Kuke, para colocar os quadros na sua loja de tatuagem, em Realengo, onde queria estruturar, junto ao que fazia, um café e uma galeria de artes. Certo dia, apreciando as obras, Alê Souto fez o convite inesperado. Chamou Santos para participar da coletiva Vem na mão, no Centro Cultural Justiça Federal, apresentando apenas dois de seus quadros, Profeta Gentileza e Noites de Copacabana. Dos 13 artistas presentes, Paulo Santos foi o que mais fez sucesso.
“A dificuldade do artista gira em torno do preconceito. A arte é para a elite ver. Artista do subúrbio, até mesmo do interior do Brasil, não tem muito espaço. Já vi muitos talentos por aí. Existe uma certa dificuldade para penetrarem nos centros culturais”, nos conta o curador Airton Igreja.
Um ano depois da primeira coletiva, Santos é chamado para sua primeira individual. Com dez obras expostas, o artista nos explica um pouco do seu viés e do apelido que um amigo deu ao seu estilo. “A antropofagia vem do modernismo de artistas consagrados, que quebraram padrões rígidos. Eu costumo digerir imagens conhecidas e regurgitá-las sob um formato bem brasileiro. Quanto ao Pop Arte Tupiniquim, é um apelido em referência ao movimento surgido nos anos 60, que utilizava o deboche à propaganda como forma de expressão. De fato, meus quadros apresentam sempre um tom sarcástico”.
Exposição Paulo Santos
Centro Cultural Justiça Federal
Av. Rio Branco, 241 – Centro
De terça a domingo, das 12h às 19h, até 3 de outubro
Visita orientada com o artista, 9 de setembro às 18h
email do artista: pross_air@hotmail.com
Como saiu no Jornal do Commercio
edição do dia 3 de setembro de 2010, Caderno Artes, página 6
Obras do artista
Paulo Santos e a obra Madame Satã |
Paulo Santos em seu ateliê |
Mercado Divino |
Morro |
Vênus brasileira |
São Jorge |
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