Rodrigo Martins
No ano do bicentenário da independência do Chile, o Museu de Arte Moderna do Rio resolveu prestar uma homenagem aos vizinhos sul-americanos. De 2 a 12 de dezembro a cinemateca do MAM apresenta uma retrospectiva do cinema chileno, cobrindo desde o período silencioso, passando pela época da ditadura e a transição até os filmes do século atual, quando a produção cinematográfica local deu um salto extraordinário.
"O cinema chileno vive um dos períodos mais intensos e ricos de sua história. O setor se vê amparado pela chamada Lei de Fomento Audiovisual. No seio desse atual aumento da cultura cinematográfica no Chile está a inauguração, em 2006, da Cineteca Nacional de Chile, órgão integrante do Centro Cultural Palácio La Moneda e membro da FIAF (Fédération Internationale des Archives du Film)", explica Fabián Núñez, pesquisador especialista em cinema chileno, professor da UFF e colaborador da mostra.
A retrospectiva é uma oportunidade única para os amantes do cinema conhecerem um pouco mais sobre essa rica produção. É notório e intrigante o desconhecimento e a falta de acesso aos filmes do Chile. Segundo Núñez, "não é uma singularidade do Chile. Os filmes latino-americanos dificilmente circulam pelo nosso próprio mercado. No entanto, recentemente, alguns filmes chilenos têm chegado ao mercado brasileiro, como Machuca (2004) de Andrés Wood, En la cama ("Na cama"; 2005) e Tony Manero (2009), de Pablo Larraín, coproduzido com Brasil".
A mostra começa com o Programa de curtas do Coletivo Corazón Popular Internacional. Filmes contemporâneos, produzidos a partir de 2002. Na sexta-feira, às 18h30, será a vez dos documentários histórios silenciosos – produções do início do século 20 – dentre os quais, destaca-se Recuerdos del mineral "El Teniente", de Salvador Giambastiani (1919), talvez o mais importante pioneiro do cinema chileno. No sábado, às 18h, será exibido El chacal de Nahueltoro, de Miguel Littín (1967), único exemplar do cinema novo chileno – uma época de muita influência de cineastas brasileiros exilados, tais como, Glauber Rocha e Silvio Tendler.
No domingo, duas fases distintas. Um filme do período de transição e uma comédia do século 21. Livres das censuras, tanto o gênero cômico quanto o erotismo ganham as telas chilenas. Às 16h, um dos expoentes dessa transformação será apresentado: Negócio redondo, de Ricardo Carrasco (2001), a história de três homens que resolvem vender mariscos a preços exorbitantes na semana santa. Às 18h, um retrato da época marcada por uma retórica traumática por causa dos dias difíceis do domínio militar. Caluga o menta, de Gonzalo Justiniano (1990), conta a história de um jovem sem esperança que vive na periferia de Santiago, entre a rua, o ócio e a delinquencia.
Os destaques dos últimos dias ficam por conta de Julio comienza en julio, de Silvio Caiozzi (1977) – em exibição na sexta-feira, dia 10, às 18h30 – "O primeiro filme considerado relevante após o Golpe, em termos estéticos e comerciais", de acordo com Fabián Núñez. No sábado, dia 11, às 16h e 18h, Johnny cien pesos, de Gustavo Graef-Marino (1993) e La buena vida, de Andres Wood (2008), Prêmio Goya de melhor filme hispano-americano e melhor filme no Festival de Huelva de 2008.
Para encerrar, no domingo, dia 12, nos mesmos horários, outras duas produções de épocas contrastantes. Sexo con amor, de Boris Quercia (2003) e Diálogos de exilados, Raul Ruiz (1975). A mostra ainda conta com clássicos do cinema mundial como o polêmico Salomé, de Charles Bryant (EUA; 1923), com Alla Nazimova, e Rocco ei suoi fratelli, de Luchino Visconti (Itália; 1960), com Alain Delon.
Para Fabián Núñez, esta iniciativa do MAM visa a "despertar o interesse por uma cinematografia rica e instigante, com algumas semelhanças com a nossa e, por outro lado, distante e desconhecida. Em constante renovação e com a capacidade de surpreender com autores e obras, apesar do modesto volume de produção, em relação a outras cinematografias do subcontinente latino-americano".
Como saiu no Jornal do Commercio
Edição de sexta-feira e fim de semana, 3, 4 e 5 de dezembro de 2010
Caderno Artes, página 6
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